segunda-feira, 19 de abril de 2010

Um passo em falso e...

Pode ser por vingança
algo escrito na parede do inferno
talvez um salto para o infinito
a bordo de uma nave sem teto
caindo vertiginosamente no vazio
de um planeta ausente.
Terá que haver múltiplos relógios
dalinescos desmaiando nos braços da noite
uma onda como lençol
um par de botas douradas
uma prisão com barras de diamante negro
um convite para nascer
uma chacota bem feita
à vida, à desfeita
uma, duas ou muitas
chances de brilhar ou derreter.
Já sem os grilhões
muitos sobreviventes vão caminhando
na mais completa solidão
onde os três patetas ergueram um sonho
um deserto se abre para as manhãs de outono
e de agora em diante o sol de ácido
comanda o espetáculo.
O milagre da fuga eterna
se é que é possível
fugir....deste paraíso sem luar.
Nas laterais para sempre úmidas
das estradas feudais
surgem e rugem musgos letais
donde esporos venenosos matam
as lagartas e os escarabeídeos.
Espigam as gemas de pantano e borra
sobre os telhados caídos
e as placas de um trânsito pétreo
tremulam ao vento vermelho de radiação.
Não somos mais bípedes homo sapiens
apenas pingentes esfolados
das tempestades ácidas
se desmanchando vivos
enquanto espíritos
aguardam
serpenteando
pela escadaria
dum velho farol.

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