terça-feira, 31 de agosto de 2010

Nhô Vito.

As estradas abrigam seus sonhos
assim como os insetos rasteiros,
companheiros involuntários, mal sabem
a que mundo pertencem.
Cada cerca sem dono, guarda fantasmas
e seus escravos
que a cada instante de dor,
buscavam na memória inexistente,
a terra em que nasceram
o motivo pelo qual vieram
e a razão para
tão amargo destino,
ser livre...e morrer.

"Ixa vida seu Danieli, ceis sum
treis irmão qui nem pareia"

"Feliz dia do trabaio"

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tríptico em vermelho.

O silêncio de vidro é quebrado pela
sofreguidão da manhã.
Nada é em vão
nem as portas de tela fina
que me separam do sol.
Nada é inútil
nem as longas andejas
sobre dormentes descarrilados
das mil bocas esfomeadas
do tríptico em vermelho...

que nunca foi pintado.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Fantoches foragidos.

Os passos controlados
por esteiras medidas
sob a intensa luz dos holofotes alienígenas.
Olho teu rosto à sombra
busco uma carícia...uma delícia desesperada
com minhas mãos trêmulas presas no fio.
Descompassados fora de controle
ardemos os dois numa espera sem fim
quando as luzes se apagam
a platéia dispersa sorri
as cortinas desabam
minhas mãos deslisam livres
das mãos algozes
sobre teu seio nu.

Te beijo ofegante
em meio ao guinchar das roldanas
e o espetáculo...a vida
não pode parar.

domingo, 22 de agosto de 2010

Vida

Quero o manual do proprietário.
Alguém tem?

Terra Incógnita.



Envolvidas num silêncio contemporâneo
essas esculturas são as últimas
testemunhas de um Brasil desenvolvido
que nunca existiu.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Anônimo.


Obra de Stela Medeiros.


Para tanto...aprendi
entre tanto que não sei
além desse poder que
caiu sobre minhas mãos
dentre tantas
dádivas dantes perdidas.
Para ser nada, do que sou
apenas um rosto
que ainda se repete
que quase não respira
numa multidão invisível
fingindo não se ver.

Sou aquele que não brilha
nem assombra
e nem soma.

Não está.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Assim

Mesmo que ninguém aceite...a vida cobra seu preço.
Desmancha os coretos nas praças
derruba as teses dos discursos.
Ainda que ninguém queira...os cabelos do tempo
caem nos ralos.
Até as árvores mais fortes deixam de dar frutos.
Os rios recobram seus leitos
o mato recobre os caminhos
as vozes se calam
o inverno cumpre seu destino
as cortinas apodrecem
já não ouvimos os cães na madrugada.

A luz se apaga
enquanto as bocas se atraem
num beijo derradeiro.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Resposta

Já não quero mais
teus cabelos sobre meu peito,
teu corpo quente dentre os calos das minhas mãos.
Não preciso mais do farol dos teus olhos
do frescor de todos teus lábios
tua palavra...que sei de cor.
Já não penso em teus seios intumescidos
na resistência tenra das tuas
coxas sob as minhas.
Esqueci do bálsamo vibrante
do escorrer das tuas mãos em minhas costas.

De nada me serve...sentir o suspirar
denso do teu gozo
nem posso mais com teu sorriso
tua respiração em meu pescoço
teu explorar minucioso
sobre as veias dos meus braços cansados.

Jã não posso viver
sem estares
em mim.

domingo, 8 de agosto de 2010

Razão.


Pássaro anjo. Obra de Stela Medeiros


A razão às vezes se intromete
entre mim e meus sonhos.
"Precisas ser mais gentil contigo", diz!
Na verdade ninguém quer mais a minha felicidade
do que eu mesmo.
Todavia, errar sempre não pode ser
um projeto de vida.
Paz!
Para mim e para os meus botões
carcomidos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O poeta e seu castelo.




Andei por tantas ruas.
Rua dos desatentos, dos cataventos
ruas de espinhos.
Rua da saudade....que senti.
Das primaveras, dos passarinhos.
Andei pela cidade....alegre,
rua da praia, sem praia sem fim.
Por conta imprópria, mas na hora própria...fugi
pra dentro de mim.

Enquanto isso em Porto Aegre...
O Prédio do antigo hotel Majestic, abriga
a Casa de Cultura Mário Quintana. Em seu
segundo andar, conserva quase inalterado,
o quarto do poeta.
Não apenas um quarto, mas o seu
castelo.