terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Não pode ser?

Olho para mim e nada penso encontrar!
As dunas estão na mesma praia,
algumas coisas se ajeitam como as dunas,
outras como as águas.
E eu? Vou como as ondas do mar
me repetindo sempre!
Mas nunca me acomodando como as areias!
Por mais que possa imaginar possível,
nunca fico no mesmo lugar!
A vida passa e se repete
e busco as notícias que espalham por aí!
Corro não penso,
olho não vejo,
e eu? Vou como as nuvens
me repetindo atrás das chuvas,
e pedindo
sem saber porque
e rindo
sem saber do quê.


Ricardo Kersting

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Porta


Quantas vezes podemos

estender a mão sem temermos

e com um gesto abrirmos uma porta!

A quem passe podermos sorrir

a quem entre podermos abraçar.


Quantas chances temos

de vermos o mundo!

Sem ter que contar nos dedos

os sonhos realizados,

e num milagre contemplar

sonhos passados.


Quando veremos atrás da porta

que se fecha aos nossos olhos!

Que há outras portas que não se fecham,

outros olhos que nos guardam,

outros sonhos por sonhar.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Joanna

Silêncio profundo
cavalga no tempo
amordaça o vento
e traz solidão.
Nos corredores escuros
crianças não brincam
mas as sombras se vingam
nas flores do chão.
O sol que brilhava
nos olhos da vida!
Numa chama atrevida
uma criança a dançar.
Mas a dança da vida
mudou o seu ritmo,
e uma dança sem vida
começou a tocar.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Olhos de jade

Vejo poetas te jogando versos
como profetas cantando loas
à divindade!

Prostrado como Lázaro retiro-me
de teu séqüito,
laber-me-ei as feridas
de batalhas que em vão lutei!

Para não tão humilde,
assim como Lutero,
apenas eu, solitário
te venerarei.


Ricardo Kersting

Alguém


Ter alguém
que podemos acarinhar,
sem ter que pedir licença,
sem ter que saber a diferença,
entre o viver
e o sonhar.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Traduz



Causa espanto
tanto o quanto,
traduz o teu corpo!

Quanto deixo o sumo
como orvalho sobre o limo
que salvei do pranto.

Ricardo Kersting

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Meu canto

Sempre quis

te mostrar meu canto

Nunca estavas pronta

nunca soubeste pedir


Meu canto não calará

portanto

Nem por pouco

se deixará sumir


por isso

em algum lugar

nalgum canto

alguém há de querer

ouvir


Ricardo Kersting

domingo, 7 de dezembro de 2008

Para quem anda e canta

Se meu cantar te trouxer um alento
de quem anda e sente o chão na planta do pé!
E meu andar te mostrar os caminhos que restam,
pode ser que este canto ainda vá te ajudar.

Já nasceu tanta gente de outra gente andrajosa
neste lugar,
outros tantos fugiram ou sumiram nas sombras
sem poder esperar.

Nós podemos e vamos juntos à frente
ou podemos parar,
para quem canta é mais fácil escolher os caminhos,
inventar novas trilhas
ou simplesmente
voltar.

Agora

Agora eu sei
que nada é proibido ao meu querer

tudo é difícil de conquistar
tudo é tão fácil de esquecer

fomos todos desenhados com o mesmo giz
da mesma luz.

Ricardo Kersting

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A imagem muda (da exposição do amigo Sony)

Ontem não será como foi amanhã,
nem te conhecerei se não te ver.
Amanhã deixei, minha imagem muda
mudará ontem minha vida,
hoje foi amanhã.

A imagem silenciosa serpenteia à espreita.
Perguntarei ontem o que pensaste amanhã.
Porque tudo muda,
tudo foi! Muda minha vida.
Muda a imagem muda.

Ricardo Kersting

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sorriso

Hoje

Eu

Lentamente sumiria

Embriagado pela bruma da tarde

Nada me impediria

Antes que fosse tarde, sumiria como o gato da Alice

sumindo

sumindo

sumindo

deixando
apenas um sorriso





Ricardo Kersting

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O guardião


O caminho
era guardado
por um guardião espartano.
Era o único
caminho de volta
que me levaria para casa

e eu
quase desisti.
Hoje o caminho não leva
a lugar algum,
é outro caminho.
Mas continua guardado,
por um guardião
espartano.


Ricardo Kersting

Devora-me cronos

desfaz minha vida aos pedaços
nas garras de cronos
na orgia dos deuses
no peito em agonia
desfaz todo dia

suor que escorre
amor que se perde
dor que se esconde
pelo lixo das ruas

desfaz o meu sangue
se fétido estorvo
lida pervertida
desfaz minha vida
da noite pro dia

Ricardo Kersting

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Verdade ( A ordem do dia )

Queria não pensar, por uma vez
um só segundo!
Fosse a verdade, acontecimento
a ordem do dia!
E que eu não a ouvisse, por uma vez
um só segundo!
Que despontassem da sede, os desertos
e seus desertores!
E que eu não os sentisse, por uma vez
um só segundo!

E para aqueles que perguntassem,
onde andaria, o tal que não responde?

Eu soltaria toda dor que ainda me importasse
se eu não vivesse, por uma vez
um só segundo!

Mesmo assim haveria, da ordem do dia
quem nada soubesse.

Ricardo Kersting

sábado, 29 de novembro de 2008

"Nem" Ser

O simples respirar "nem" ser profundo,
o tênue arfar apesar de oculto.
Deveria bastar para eu"nem" ser só! Um vulto.
Poderia "nem" ser só! E te encontrar.

Oculto o tênue bastar, para"nem" ser, só simples!
Apesar de vulto, só ser profundo!
Nem respirar poderia! Ser simples,
deveria bastar.

Ricardo Kersting

Telefonema

Vem agora, minha onça matreira

antes que a solidão se escoe e leve consigo

a fuga de mim mesmo!

Traz contigo uma lâmpada para esse quarto,

que ainda ontem tropecei na cama!



Vem me dizer das coisas que não possuo, vem!

Reclamar da sujeira da casa

e me chamar de tonto!



Aqui, existia uma placa dizendo, cuidado!

Aqui, existia o cuidado de existir uma placa!

Aqui, existia um tempo em que uma placa refletia,

cuidado, cuidado!



Hoje existe um cão,

e a verdade de um cão,

é a comida que recebe,

seu latido é ilusão!



Vem me tirar da seqüência,

a porta às vezes abre

e nunca mais fecha!



Os copos estão vazios,

o relógio, parado

e a toalha mofada, esquece a lâmpada!

Faltou luz!



Não esquece de mim,

não esquece de mim.


Ricardo Kersting

Vem

Era tarde, eu deitei!
Escutava sinos,
teu rosto triste lembrei!
Companheira vem buscar,
a tua boca que calei,
os teus olhos
a quem jurei
nunca fazer chorar.

Ricardo kersting

Chuva.

A brisa inunda a sala!
Transforma a cor nula, pela chuva, pela casa!
Em véspera de faxina!
Cheia de pó, roupas, serpentina,
numa súbita canção!
Que decerto, alguém cantará!

Desfaz-se o sexo
feito algum dia,
sem amor ou poesia,
porque nada é feito de graça!
Nenhuma rua, nenhuma praça!
Alguém por ali passará!

Ricardo Kersting