sábado, 29 de dezembro de 2012

Biruta

Sou uma palavra ao vento
desarticulada sem controle, desafeta.
Inquieta e mambembe....
Sem a tua pele em branco
para o meu descanso
porque és longínqua e
jazes sobre um córrego seco
perdido das chuvas de outono..

Palavra:
Que me  leve desastrada para os confins do continente
e dessa viagem rompa-se o tempo
desfaça-se a luz,
que a Terra seja só terra
a cobrir rastros de mim
por fim...
que eu caia sobre a cal
do papel brando-branco
e escreva-me...assim:

Te quero!

Esboço



Fiz de tudo para estar,
me expus ao extremo.
Ridículo, inconsequente e
desvairado.
Como louco saí às cegas sem rumo
caí em armadilhas, um espectro, um simulacro,
resumo do vazio.

O silêncio é uma tortura engenhosa!
Aflito estou voltando como cão sem dono.
Essa aflição que me aflige não perdoo,
minto, perdoo sim, mas não agora.
Agora sou um bêbado sem memórias para contar,
sem casa para voltar,
sem um idioma inteligível para  coisa qualquer dizer
ou criar:
Um rascunho, uma maqueta de um sonho, um esboço
de uma vida
que agora,
mais difícil viver...!


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Segredo

Não há incógnitos, não há desfechos
mãos postas sobre os corpos
nem paixões, temores ou desejos
não há sobreviventes em fuga
não há "eu"  tentando reinventar o medo
não há perguntas, não há respostas
não há tristeza...
segredo...!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Se Apolo cantar.

Sei que me entorpeci nas contas de tantas vezes
que te abri...
Nas tardes de chuva, sem vento, odor, horror e
frio de morte..
Te olhei por vidas inteiras
me perdi em teus vales, floresta nazista e tudo
que era palpável
em meus sonhos, "pesonhos", pesadelos.
Não lembro onde estava quando te conheci, mas
lembro o torpor de Einstein quando a Terra tremeu e
uma luz intensa cegou as toupeiras.
Ouvi o canto dos anjos e senti o clamor dos infernos..
Em teus precipícios vi Virgílio e
nas escarpas sangrentas esperei por Dante.
Viajei pelos caminhos orientais invisíveis enquanto Marco Polo
se entregava à loucura.
Perdi tudo num jogo marcado, fiz um pacto
com Zeus, Proteus mas nada
cumpri.
Vi os olhos de Lúcifer
quando a luz das toupeiras varreu Hiroshima e
nada me pareceu mais
natural do que as "Demoiselles d'Avignon"  que
Picasso consagrou...
Refiz o que não fiz, por saber que nada sabia
como Sócrates, mas pedi, por favor,  mel
em minha cicuta...!

Nada será mais insano
nada será castigado
nada imoral
nada proibido
escasso
fracasso
Fracassa
devassa
Olga
Van Gogh
ou Ricardo Kersting...

Porque antes de Apolo cantar
eu te negarei três vezes...!