segunda-feira, 31 de maio de 2010

Louca visão.


"Cristo de São João da Cruz - Salvador Dali"


Daqui posso ver
o que deixo de mim
e o que não deixo...a ninguém.
Dali pareço...o que te pareces?
Um corpo sombrio, tela pintada
por um louco de arte.
Daqui pareço...o que sou.
Dali...o Salvador, pareço.
Uma caveira de boi presa numa cerca.
Dali, vejo o que deixo
e o que não posso deixar...levo comigo.

sábado, 29 de maio de 2010

Amanhã.

Nada como um dia após um pesadelo.
Terás um amanhã bem melhor.
Ficarás feliz ao perceber que fui apenas...
alguém distante, alguém que conheceste
brevemente num parque domingo à tarde.
Um amigo ocasional, daqueles que ajudam
a carregar os pacotes ou que
espantam as formigas num piquenique.
Sentirás um imenso alívio
ao constatar que não precisas escutar meus lamentos
que não tens nada a ver com meu sofrimento
e que podes mudar de canal e
esquecer tudo que eu disse.
Sentirás alegria ao notar minha ausência,
que fui apenas um porto perdido
nem precisarás suportar o peso
do meu corpo cansado.
Te sentirás feliz ao nascer de outro dia,
sem precisar carregar minhas angústias
nem sentir minhas mãos calejadas
puxando fios das sedas
sobre tua pele macia.

Ficarás satisfeita em saber
que não precisarás olhar meus olhos
e que tudo nessa vida passa
e que eu passei
também.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ondas

Ondas que
avançam e recuam
num andar sem fim.
Respingos e rendas
espumejante
do mar...dela
em mim.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tombo

Estou de cabeça na rua
e o tempo rege minha loucura,
filha única da minha solidão.
Dessa vez é fácil não mentir
é um caminho sem retorno...cair.
Por essa razão minhas mãos
já apalpam o meio fio,
já resvalam sobre os paralelepípedos centenários.
Por isso minha voz não será usada em vão
não mais.
Dessa vez é mais fácil não falar.
Estou de corpo e alma no mundo
não volto mais...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Piá.


O mundo era maior
as estrelas, muito mais perto
ouvia-se o coaxar dos sapos
sentia-se o espocar dos cascos
e eu..era bem mais esperto.
No jogo de bola
bolita, pião...por aí
não perguntava,
não respondia,
não adiantava perguntar
coisas que ninguém sabia.
Horas corriam devagar
eu pensava que jamais chegaria
o momento que teria saudade
do passado, da liberdade
se me contassem, não acreditaria.

De repente a vida passou num tufão
rasgando o vento sobre a cabeça
escrevendo na pele
para que nunca esqueça
como a brasa da memória
na palma da mão.

O piá..cresceu no alumiar das luas
marcado a ferro e fogo pelas ruas
mas, se perdeu no escorrer do dia.
Cresceu e o mundo ficou bem pequeno
lambeu-se as feridas
sugou-se os venenos,
que foram injetados nas esquinas do corpo
enquanto a infância
fugia.

Quixote...sou. Quixote e Rocinante. Chapa de cobre. 1998



Cruzei mares, saltei rios,
sobre fogo cavalguei.
Venci.
Gigantes enfrentei, enlouquecido pela paixão.
Teus olhos morenos em si,
eram minha visão.
Cada pedra que encontrei,
toda batalha que perdi..
cruzando armas ao desconhecido,
por ti,
venci.

A amiga loucura.


Há muitas coisas que somente um louco
pode fazer sem ir preso, sendo
que todos perdoam suas sandices.
Nem por isso eu iria querer ser um.



Hummmm......, bem!!!!

terça-feira, 18 de maio de 2010

O primeiro romance.

Naquela manhã fria
ela deixou sua casamata.
Esqueceu seu escudo, a armadura
e o anel protetor.
Saiu sem nada,
nua e desarmada.
Não aceitou gentilezas, nem ensejos de
vitória.
Apenas deu bom dia...ao mundo,
às flores, ao dia.
E a tudo que via.
Primeira vez na sua vida
que não precisou de escudeiros
nem seus cavalos ligeiros.
Somente sua pele clara...sem dono
e um perfume primavera
naquela manhã de outono.

domingo, 16 de maio de 2010

O canto das horas.


"Menina na janela-Salvador Dali".




A noite soltou um grito
eram os espasmos das nuvens
ao fugirem do sol.
Restaram estrelas, brinquedos de lua
e assim se fez a luz do luar.
Em cada ser, o presente
buscou um sentido,
eu impediria se pudessem me ouvir.
Muitos se esconderam
atrás do sebo derretido das velas,
velhas fórmulas pacíficas
que tudo vêem e nada podem sentir.
As sombras se desfizeram
antes da noite gritar...teu nome,
antes do meu silêncio,
antes do canto e dos santos.
Alguém me lembrou do andar das horas
as mesmas que fazem a noite voltar.
As que me fazem pensar
nas coisas pequenas, amenas
loucas palavras
depois de tanto
calar.

sábado, 15 de maio de 2010

Catavento. Moinho de vento do parcão Porto Alegre


Catavento
cata o intento
enche a barriga de vento
gira gira sem sair do lugar.
Catavento
seu contratempo
é se um dia o vento
parar de ventar.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Romaria por nada.

Este é o momento
de pensar afinal
que a vida inteira
pode ser
um capítulo resumido
de uma novela
escrita com o dedo
lambuzado nas fezes
de uma cobra coral
deixadas sobre um prato
de vidro amarelo
que gira noutro prato
dentro do micro-ondas
com micro ondas quebrando
nos peitoris das janelas
na lanchonete
à beira da estrada
que leva romeiros
ao sítio da santa
com seu rosário de pedras
cintilantes onde as rezas
se repetem até o fim
da tarde que traz a lua
divida em pequenos pedaços
iluminando os espaços
fazendo o rio transbordar
fora do leito
meio sem jeito
e a chuva solta um pingo
quando for domingo
o pai de um gringo
na porta da venda
fumando cachimbo
e o sol vem vindo
iluminando os espaços
divididos em pedaços
onde jaz a lua
na boca da rua
que se repete
como reza da santa
que esperam os romeiros
que vêm pela estrada
até a lanchonete
no umbigo do dia
cotovelo da tarde
orelha da noite
abrem o micro-ondas
retiram do prato
de vidro amarelo
uma poesia vermelha
de fezes e sangue
da cobra
coral.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pacto

Até hoje fiz tudo do jeito que me ordenaste.
Aceitei o sofrimento que me impingiste.
Jamais reclamei, se chorei foi em silêncio.
Até hoje suportei as humilhações que me impuseste.
Varei noites insone para honrar teu reino.
Sofri as angústias de fracassos e engodos
pela tua grandeza.
Nunca olhei para o passado
com olhos de incerteza quanto ao futuro.
Ouvi risos, sarcasmos e ofensas.
Tudo por querer te amar o tempo inteiro.
Te entreguei a minha vida, dentro dela, as asas
da minha liberdade.
E nunca me julgaste digno de ti.
Até hoje, não sei quem és,
nem sei quem sou, mas
morrerei gritando
teu nome.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Para onde vais gaudério?

De onde vens gaudério?
Com essa cara tristonha
com esse olhar de quem não sabe
a diferença entre
viver e sonhar?
Para onde caminhas, triste vaqueano?
Não vês que teu tempo terminou, mas a estrada
não termina?
Para que mentir, gaudério,
com essa saudade sem pátria?
Com essa calma patética
e esse pesar?
Toma cuidado com a vida que trazes.
Esquece teu sonho
e busca tua paz.

Já não há caminhos distantes,
noites de luas nem picadas cerradas.
Já não há campo aberto, galponeiras
risadas ou um amigo por perto.
Já não há as geadas cortantes
o pó das estradas nem o gado bravio.
Não há mais as virtudes das parcerias
da vida de sonhos
das carreteadas
nem minuano a soprar.

Para onde vais gaudério?

domingo, 9 de maio de 2010

Uma atividade urgente para a mão esquerda.

Ontem descobri uma coisa impressionante.
Algo maravilhoso que mudará minha vida
e a vida de todos em minha volta.
Descobri aquilo que certamente muitos gostariam de
descobrir. Eu sou meu irmão gêmeo.
Ninguém pode imaginar, nessas alturas de minha vida
descobrir uma coisa assim.
É simplesmente fantástica essa sensação de estar
acompanhado o tempo inteiro por uma pessoa tão
incrivelmente parecida comigo.
Essa..semelhança, essa cumplicidade. Somos iguais
em tudo.
Quando estou triste, sem saber porquê em segundos
começo a ficar triste também.
Quando estou alegre é a mesma coisa. Fico alegre
e começo a rir sem nenhuma razão aparente.

Sinto saudade quando estou distante, mas tenho a
nítida sensação de minha presença, sempre.
Tenho as mesmas vontades, a mesma fome e a mesma
preguiça de manhã.
O mais engraçado é que eu quero ser artista
e eu também.
Esse fenômeno inexplicável da humanidade, deixa
qualquer um fora de órbita. É por essa razão
que muitas pessoas procuram analistas.

Ainda bem que não preciso disso, pois tenho alguém
igual a mim para conversar sobre.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Bendita

Benditas sejam as mães...principalmente
aquelas que não puderam
ter filhos.
Sabe Deus quanto a humanidade perdeu
pelo fato dessas mães
não terem sido abençoadas.
Benditas sejam aquelas
que têm a ventura sublime
de criar filhos de outras
que não os quiseram ter
e nem vê-los crescer.
Bendita seja a mãe...
verdadeira.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ainda há tempo!


Uma ínfima mostra dos animais ameaçados de extinção.
Como fundo, a música de David Antony Clark que por
si é um clamor ao bom senso, pois ainda há tempo.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Jogo de um milhão de erros.






Há distâncias entre as duas mulheres
talvez continentais.
Mas entre si há semelhanças
a maior delas é o sentimento.
Tanto uma quanto outra
é responsável por aquilo que carrega.
A diferença é que uma carrega
o resultado de um sistema global falido.

sábado, 1 de maio de 2010

Pé no freio


"No fim do mundo
tem um tesouro
quem for primeiro
carrega o ouro
a vida passa
no meu cigarro
quem tem mais pressa
que arrange um carro
pra andar ligeiro
sem ter porque
sem ter pra onde
pois é! pra quê?"

Sidney Miller