segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Uma voz

Nem sempre busquei coisas encontráveis.
Na verdade, muitas vezes perdi o que procurava
para não perder tempo procurando.

Um dia.

Um dia, a chuva caía sobre meu assoalho.
Nunca pude compreender as goteiras.
Neste dia pensei em saudade
alguma coisa ou pessoa há tempos esquecida.
Uma voz ecoou na sala do atelier.
Era uma voz conhecida, doce e decidida.
Olhei para o lado e vi um menino... Parecia ter
uns nove ou oito anos, olhos azuis
brilhantes como a lua.
Reconheci naquele visitante matutino, o medo que sentia.
Medo de que ele me cobrasse promessas
que nunca pude cumprir
que ele me perguntasse porque desperdicei
a sua juventude.
Que sentisse vergonha do que não consegui ser
e lesse em voz alta tudo que escrevi
nas bordas dos cadernos.

Ele não disse nada, além de me desejar bom dia.
Baixei a cabeça e continuei fazendo aquilo que ele queria
fazer e não sabia. (Eu nunca lhe deixei aprender).
Ao invés de cobranças ouvi um pedido:

"Divide a tua dor comigo, assim como dividi
a minha felicidade contigo"
Eu respondi que não podia e que teria que suportar minha dor
sozinho. E ele respondeu:

"Eu não sou a tua sombra pequena, sou parte do que tu és
e a melhor parte".
"Eu sou como o sonho mais puro
que nunca pudeste realizar"

Olhei para a janela na minha frente.
As imagens se pareciam
com uma tela pontilhista de Georges Seurat.
As cores da rua se misturavam com a chuva, e o brilho das
lágrimas que se acumulavam
em meus olhos sem saberem cair.
Um caminho de incertezas é o que eu sempre tive.
Aquele menino certamente
sentiu vergonha da minha fraqueza.
Por nunca admitir minhas limitações, minhas dúvidas e
o medo de ser feliz.
O medo de saber que poderia ser
o que eu sempre quis.

3 comentários:

Soraia Yumi disse...

Que dor.
Não tenho muito o que dizer,mas se precisar de ajuda pra ir atrás dele,e buscá-lo onde for é só chamar.
De novo o tempo.Por mais que pareça difícil,acredito que ele ainda não esteja tão longe,há tempo de alcançá-lo.

Beijo grande no coração.

Helena Erthal disse...

Um olhar à essência de nós mesmo...dimensão difícil de chegar, como reagir!?

beijos

Cynthia Lopes disse...

Oi Ricardo,
lindo poema, emocionantes versos.
Bem você, inteiro você.
Que você seja feliz, posto que, a sua dor e tristeza envolvem a gente e porque te amamos, e queremos tão somente lhe ver feliz!
bjs