sexta-feira, 14 de maio de 2010

Romaria por nada.

Este é o momento
de pensar afinal
que a vida inteira
pode ser
um capítulo resumido
de uma novela
escrita com o dedo
lambuzado nas fezes
de uma cobra coral
deixadas sobre um prato
de vidro amarelo
que gira noutro prato
dentro do micro-ondas
com micro ondas quebrando
nos peitoris das janelas
na lanchonete
à beira da estrada
que leva romeiros
ao sítio da santa
com seu rosário de pedras
cintilantes onde as rezas
se repetem até o fim
da tarde que traz a lua
divida em pequenos pedaços
iluminando os espaços
fazendo o rio transbordar
fora do leito
meio sem jeito
e a chuva solta um pingo
quando for domingo
o pai de um gringo
na porta da venda
fumando cachimbo
e o sol vem vindo
iluminando os espaços
divididos em pedaços
onde jaz a lua
na boca da rua
que se repete
como reza da santa
que esperam os romeiros
que vêm pela estrada
até a lanchonete
no umbigo do dia
cotovelo da tarde
orelha da noite
abrem o micro-ondas
retiram do prato
de vidro amarelo
uma poesia vermelha
de fezes e sangue
da cobra
coral.

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