Algo estava errado?
A tripulação parecia entorpecida
navegavamos em círculos ou o timoneiro adormecera.
Quando consegui abrir os olhos
vi o clarão da lua
no lado oposto uma luz muito forte.
Seria o sol?
Algo estava errado?
Ninguém respondia
as almas mergulhadas no Estige
buscavam salvação a bordo
Tentei puxar um homem
só então vi tratar-se de um bandido
talvez um demônio
talvez fosse eu.
O Estige parecia um mar, morto?
Ondas de carne castigavam o casco
da nave perdida.
Caronte dormia,
uma jovem chorava!
Por um amor despedaçado?
Perdido entre promessas de eterna fidelidade?
Um homem velho arreganhava os dentes
num sorriso dos loucos
perdido entre águas sangrentas
de almas condenadas!
Sua mão indecisa alcançou o meu ombro,
um tremor de nojo e desespero tomou todo
o meu corpo.
Ele nada dizia mas eu ouvia seu clamor
pedia meu perdão e jurava nunca mais
cometer tão violento crime.
Entre lágrimas e soluços
pedia-lhe pelos santos que me soltasse,
pois nada eu saberia sobre ele e sua consciência.
Ele parou de sorrir,
seus olhos derramavam lágrimas de sangue.
Eu o perdoei,
sem saber porque,
sem ouvir seu nome.
Sem viver a sua dor.
O homem soltou-se na correnteza,
eu suspirei aliviado.
O barco retomou o seu rumo.
Olhei para trás e pude ver o barqueiro
empunhando o leme.
Tentei em vão olhar o homem
já estava perdido entre milhares
de corpos sem luz.
Caronte cantava retesando o torso ao leme
Não tive mais medo
meu lugar não era ali
eu nem sabia
onde estava
ou se sonhava
ou se aquilo,
em alguma vida, vivi.
4 comentários:
Adorei a idéia e os versos de um surrealismo teatral! O ato de uma peça teatral, adorei, mil bjs
Não posso deixar passar em branco: obrigada por publicar o poema que lhe fiz. Você foi de uma enorme gentileza. Com todo meu carinho e meus beijinhos...
Talvez sejamos mesmo, protagonistas e coadjuvantes!
Beijos
Como poderia eu deixar passar em branco? Não é para qualquer um ter um poema por Cynthia Lopes dedicado, estou muito feliz.
Beijos muitos.
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