quinta-feira, 29 de abril de 2010

O Bardo perdido.


Busquei uma calma fugitiva
em chagas que vertiam sangue
somente dor e saudade encontrei.
Acordes suaves
deram de beber ao
meu coração
cheio de tristeza.
Mas as notas benevolas do alaúde
me devolveram a paz
que procurei distante
estivera sempre
ao alcance das minhas mãos.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Por um triz.

Abri duas janelas, corri as cortinas
abri Nerudas, li Pablos, ouvi Paul O'Dette.
O que me fazia bem, eu fiz.
Nada mudou...nem à noite me trouxe o vento
nem a tua voz calma
me trouxe alento.
Nada fiz que não me subisse até a alma
nem teu corpo quente entre minhas mãos
me fizeram deitar sobre a relva de outono.

Assim fiz...busquei bálsamo
nos versos da poeta...ela não respondeu
fechando-me as portas
as duas janelas
correndo as cortinas
emudecendo a voz.

Nada eu fiz
eu só fiz lembrar
um final infeliz
num final de abril
meu canto febril
poema por um triz.

sábado, 24 de abril de 2010

Vida

Boa?
Um pouco.
Bela?
Às vezes.
Leve?
Nem tanto.
Breve..
demais.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fonte da juventude.

Talvez seja ficar escondido
atrás da macega comendo bergamota.
Depois jogar as sementes
nos quatro pontos
dos cardeais.

Nada estranho.

Nem sempre acredito no que
meus olhos vêem
ou no que minha mão escreve.
Defino as indefinidas coisas
até admitir que são definitivamente
indefinidas...ou não
nada de estranho,
nem no sistro, nem no infinito.
Pela visão alheia
minha têmpera é que ateia
o fogo frio e esquecido
de uma paixão passageira.
Por isso..
Nem sempre acredito nas paixões, soltas
rasteiras, corriqueiras nem nas
derradeiras.
Tudo que queima ao calor do momento
está contaminado de dúvidas na cisterna
que acumulamos das chuvas do passado.

Agora,
nada que penso tem corpo...peso...real
ou fantástico
nem fatal
nada estranho nas angústias
do avaliável
a despeito
do avaliador.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Hieronymus Bosch previu os bailes funk.


"Inferno Musical" Parte do tríptico "O Jardim das Delícias". 1504


Delícias, despedidas e sobras do final.
Os ruidos não cessam, não cedem... escravizam.
Aos olhos do tempo restam as pestes, entre vômitos.
A prova que queriam, está escrita no bico do grande
pássaro. Que tudo devora, arrota e evacua.
O volume aumenta ensurdecendo os sobreviventes incrédulos.
Os que já não ouvem, agradecem por apenas
sentir a carne queimando.
Risos, ritos apócrifos, urros guturais e a loucura
substituem as palavras.
É a vida.
Tudo se encaixa nesta tormenta sonora.

O juiz observa,
nada cede,
nada procede,
nada julga.

Apenas sorri.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Um passo em falso e...

Pode ser por vingança
algo escrito na parede do inferno
talvez um salto para o infinito
a bordo de uma nave sem teto
caindo vertiginosamente no vazio
de um planeta ausente.
Terá que haver múltiplos relógios
dalinescos desmaiando nos braços da noite
uma onda como lençol
um par de botas douradas
uma prisão com barras de diamante negro
um convite para nascer
uma chacota bem feita
à vida, à desfeita
uma, duas ou muitas
chances de brilhar ou derreter.
Já sem os grilhões
muitos sobreviventes vão caminhando
na mais completa solidão
onde os três patetas ergueram um sonho
um deserto se abre para as manhãs de outono
e de agora em diante o sol de ácido
comanda o espetáculo.
O milagre da fuga eterna
se é que é possível
fugir....deste paraíso sem luar.
Nas laterais para sempre úmidas
das estradas feudais
surgem e rugem musgos letais
donde esporos venenosos matam
as lagartas e os escarabeídeos.
Espigam as gemas de pantano e borra
sobre os telhados caídos
e as placas de um trânsito pétreo
tremulam ao vento vermelho de radiação.
Não somos mais bípedes homo sapiens
apenas pingentes esfolados
das tempestades ácidas
se desmanchando vivos
enquanto espíritos
aguardam
serpenteando
pela escadaria
dum velho farol.

domingo, 18 de abril de 2010

Fóssil

Destinos.


Semele.Carrara 2010


Invento nomes
crio corpos
dou-lhes asas
para que sigam seus rumos
ao infinito, não sei..unknown.
Talvez seja pura aflição
de ser um aprendiz modesto.
Não sei da razão de insistir
apenas existo.
Nova massa, novos olhares, nova batalha
contra mim mesmo e ao tempo.
Invento bondades, idealizo caminhos,
adormeço na incerteza...e
acordo cercado de tudo
que não fiz.
Vão-se os anéis, os cinzéis...
as barras de cêra, ponteiras de aço
instrumentos letais...e eu fico aqui.
Às vezes não sinto nada
nem a saudade lancinante que obriga a chorar,
nem o sutil zurzir da última chance
nem o espelho da crueldade
ou o latejo da memória
por todos os fracassos incentivados.
Às vezes sinto minhas mãos como se não
me pertencessem...como se não existissem
como se nada fosse mais fácil
do que parar..ir embora
e nunca mais.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pequena estória do grande nada. Parte 1

Do meio do nada
surgiu o grande nada.
Nada disse,
nada fez,
nada deixou
pois não tinha nada
para fazer nem
para deixar a ninguém.

Não tenho nada
com isso.


Aviso: A parte 2 foi cancelada
por não haver absolutamente nada
para contar.

Vislumbre



Há poesia...
mesmo que
muda, cega e..
fedorenta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quando te leio.

Quando te leio
é como se a calmaria
enfunasse as velas
como se o rumo se repetisse
ao longo das ilhas
em torno das Índias
caminhos distantes.
Quando te leio
desvelo teu corpo
revelas teu cheiro
sob os pelos de meu braço
leio e te abraço
enquanto és o que eu quero
que preciso
te vejo
por isso
te leio.

Recado

Atiças a brasa
ao vento
depois de tudo terminado.
O tempo parece distanciar
a essência minha... da tua.
Deixei um recado
um grito escrito
em tua calçada.
Agora? Depois de tudo consumado?
Mas vai chegar a hora...ora
debandar-se-ão os sonhos
na aurora
da noite que não terminara
e vais perguntar,
qual de nós
vai embora?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Hoje


Me quero perdido
entre os horizontes
de dois oceanos
que se formam
em teus olhos.

Hoje.
Navegante em mar aberto
para dentro de ti.

Rio



Rio
Poema de Cynthia Lopes

Vinheta:
"Nada sei do mar, dos ventos
e de seus moinhos, imaginários
imaginários"

Corre para o mar o rio
tudo se move nesta vida
como fonte jorra e cria.
Corre para o mar o rio
vida que desfralda velas
ventos que deslocam pás.
Corre para o mar o rio
da fonte às vazantes
sinuoso rio pro mar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"Caminhando" Composição de 2006



Desde o momento em que aprendi a dedilhar minhas primeiras
notas eu passei a sonhar em ter um alaúde. A imagem deste
instrumento, sempre foi meio distorcida em minha mente.
Aos poucos ela foi sumindo por razão de ser um instrumento
muito raro em Porto Alegre. Além disso as informações que
eu possuia vinham invariavelmente dos filmes de Hollywood.
Nesse momento acontecia algumas confusões, já que às vezes
apareciam alaúdes árabes, outras o renascentista e ainda
o medieval que era muito mais difícil. Somente no início
dos anos 90 é que fui apresentado ao misterioso alaúde da
idade média.

Em 2002 construi esse alaúde que agora mostro o único
registro sonoro que gravei. Futuramente, pretendo gravar
um vídeo tocando alguma coisa. Por enquanto, fiquemos com
algumas fotos e o som.

sábado, 10 de abril de 2010

Cave canem.


De repente a razão some
as vozes se alteram
nada parece ter sentido.
Tudo que se fez não deveria ter sido feito
o que se disse
deveria permanecer escondido no silêncio.
Nada parece ser lógico
gritos, ofensas...ameaças.
Arrependimento..não desarma meus punhos
não alivia minha visão
nem o arrepio da violência.
E nada disso valeu a pena.
Nada vale a dor na cabeça
o corpo tenso e o coração disparado.
Tudo que fiz de nada adiantou....serviu
para perceber o quanto ainda sou uma fera
o quanto minhas garras exalam odor de sangue
que ainda sou
humano.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Último pela estrada romana.


Sigo
e a sorte está lançada.
De meu, apenas o que
levo em minhas mãos..vazias
entre os vãos dos dedos.

Desvios e enganos
são meus seguidores.
Vou
e as marcas mais
profundas
são a saudade.
Fui.

Ciclo.

Agora eu renasço
assim como
foi ontem
será
amanhã
igual
ao vidro
quebrado.

Oooolha, cuidado!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Jogral

Para ser cantado em duas vozes pelos
desesperados das seis da manhã.


Tu
eu
Eu
tu
eu e tu
tu e eu
sou tu
és eu.

Amanhã.

bis...

Frases caóticas

Ontem eu queria tanto
entender as frases dos enigmas
paradigmas, sofismas ...e

quase caótica como as linguagens
exóticas mortas...patética

...e

Hoje não.
Não há motivos,
talvez seja tudo mentira
ou verdade esquecida
tanto faz.

Quero lembrar as armações poéticas
como convém ao homem
como convém a mim.
Sejam carregadas de loucura
rastejando sobre o piso cru da incerteza
sejam pobres de beleza ou ricas em desejo...

hoje não
serão apenas fantasias e fantasmas
não de mim ou dela.

Apenas poesia esbarrando nos limites das molduras
no quadro esquálido de uma máquina viva.
Cheia de espessos espasmos e volúpia
ativa.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Chutando tudo.

Chega um momento
em que cansamos de fazer
o que os outros gostam.
Não queremos mais ocultar
nossa cara, nossos olhos...ou mãos.
Não queremos mais esconder
nossa febre, deixar de lado nossa sede...

Aí chutamos o balde
e tudo mais que estiver na frente
...nos lados também.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Cobranças- Minotauro de Picasso.



Tenho certeza de que sou um bom amante, pois
passei a adolescência inteira praticando.

Te vejo por aí.

Depois das chuvas que não vieram
de todos os sonhos que não se realizaram
quando as nações se cansarem das guerras
quando o mar finalmente encontrar o céu.
Quando as florestas forem realmente salvas
e viver for mais importante
quando todos os templos abrirem suas portas
todas as pessoas viverem em paz.
Quando todas as crianças tiverem comida
e felizes poderem brincar
ninguém mais precisar fugir
quando todos puderem sorrir.
Quando os políticos dizerem a verdade
e a justiça vencer nos tribunais
quando os pais amarem verdadeiramente seus filhos
e os filhos honrarem seus pais
quando ninguém mais precisar roubar
ninguém precisar chorar
ninguém pedir perdão
e nem ter o que perdoar.

Te vejo...por aí.